Distrações Cotidianas e Sonhos parte I.
- Cristiano F.
- 11 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de fev. de 2021
A vida desperta começa quando acordamos pela manhã e colocamos em prática a nossa rotina diária ou pelo menos aquilo que costumamos fazer/realizar durante o dia; trabalho, estudo, lazer, cuidar da casa, dos filhos etc. Em geral a nossa rotina segue muito parecida dia após dia, fazemos o mesmo percurso para o trabalho, arrumamos a casa, filhos, relacionamentos até chegar a hora de colocar a cabeça no travesseiro para dormir e dependendo do nosso estado psíquico e orgânico, lembrarmo-nos dos sonhos pela manhã seguinte, chega o fim de mais um dia que tende a se repetir posteriormente pelo menos no que diz respeito aos compromissos sociais e familiares.
Poderia pensar que a vida cotidiana subjetiva e individual para cada sujeito obedece a uma ordem única de funcionamento, mesmo que muitas dessas rotinas citadas sejam algo comum e parecida com a da maioria das pessoas, que de acordo com um regimento cultural e social precisam assumir papeis sociais. Trabalhar para ter um sustento, estudar para ter conhecimento ou pelo simples fato de acreditar que precisa ter um bom emprego etc.
Existem aqueles momentos da vida despertas considerados diferentes na rotina cotidiana, são aquelas oportunidades que chamamos de descanso, aproveitar ou simplesmente ‘folga’ daquela rotina que geralmente se faz durante a maior parte da semana. As pessoas buscam distrações especificas de acordo com seu desejo, que promova prazer, felicidade e em alguns casos para ajudar esquecer a semana difícil no trabalho, na escola, a rotina doméstica e assim por diante.

A nossa rotina nem sempre acontece de forma como queremos, ela depende de fatores externos e do funcionamento da estrutura psíquica, emocional de cada sujeito. Pensando em exemplo prático; um homem que teve seu carro fechado por outro motorista poderá reagir de forma agressiva, enquanto outro na mesma situação terá uma postura de controle. A mulher cansada da rotina do lar descarrega sua agressividade nos filhos. O homem endividado tenta esquecer seus problemas na bebida. Cada um dentro de sua experiência de vida poderia trazer para esse texto, cenários de várias situações que vivenciou, momentos de desprazer/sofrimento causados teoricamente por fatores externos.
Fatores externos independem muitas vezes da nossa vontade, pelo menos no que diz respeito às forças interligadas a natureza, finitude e relações humanas.
Assim, nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição. Já a infelicidade é muito menos difícil de experimentar. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens. O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro. Tendemos a encará-lo como uma espécie de acréscimo gratuito, embora ele não possa ser menos fatidicamente inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes. (Freud 1927, p.85).
É sabido que às distrações são únicas no que diz respeito as forças internas que que impulsionam cada sujeito, não somente pela necessidade de realizá-las, mas pelo significado que produz em cada pessoa; uma mulher que saí para beber numa balada pode estar querendo esquecer um término de um relacionamento difícil, enquanto outra com mesmo comportamento deseja esquecer a semana difícil que teve no trabalho. O comportamento de muitas pessoas pode ser igual, mas às motivações internas e externas são exclusivas do ser.
Em paralelo as distrações que são únicas a cada sujeito estão também os sonhos. Em resumo poderia dizer do ponto de vista da psicanálise que o ato de sonhar traz ao sonhador fortes percepções da sua vida desperta (acordada), o que mais marcou que se entrelaça com desejos inconscientes.

O sonho não obedece a uma cronologia de tempo, ele não reproduz simplesmente fatos recentes da rotina do sonhador, mas pode trazer acontecimentos traumáticos, reprimidos da tenra infância.
Nos sonhos, a vida cotidiana, com suas dores e seus prazeres, suas alegrias e mágoas, jamais se repete. Pelo contrário, os sonhos têm como objetivo verdadeiro libertar-nos dela. Mesmo quando nossa mente está repleta de algo, quando estamos dilacerados por alguma tristeza profunda, ou quando todo nosso poder intelectual se acha absorvido por algum problema, o sonho nada mais faz do que em entrar em sintonia com nosso estado de espirito e representar a realidade em símbolos. (Freud 1900, p.45).
Dentro do exposto até agora, parece que tudo que fazemos na nossa vida é quase tudo distração, com diferença daquelas que são procuradas com mais consciência e outras por forças inconscientes, essa última vária pela intensidade e necessidade do sujeito de fugir da realidade.
Podemos então pensar que distrações são importantes em alguns momentos da vida cotidiana da pessoa e tem o seu lugar como refúgio para fuga da realidade difícil, ou melhor dizendo fuga de um sofrimento que estar vivendo de forma iminente, mas que precisa ser em algum momento refletido.
No caso das distrações excessivas com uso de substâncias ilícitas, corre o risco de o vício levar a destruição do corpo, do psíquico e consequentemente das relações sociais. Um exemplo; seria de uma pessoa de folga do seu trabalho busca nos finais de semana sair para beber, no intuito de esquecer a semana difícil e que sente alívio em fazer isso, porém com o aumento da pressão do trabalho e dos problemas comuns do cotidiano, passou a beber também durante a semana, até chegar o momento que perdeu o controle de suas distrações, vindo a faltar e chegar bêbedo no trabalho.

Tornar mais consciente às escolhas das nossas práticas de distrações deveria ser uma missão diária na vida do sujeito, bem como entender melhor as mensagens trazidas nos sonhos, não no sentido religioso, mas do ponto de vista cientifico. Aqui falo do ponto de vista da psicanálise Freudiana que deu funcionalidade terapêutica aos sonhos, que deu voz ao inconsciente e de forma esplêndida fala da nossa vida desperta e onírica.
Podemos através do autoconhecimento ter uma vida psíquica, orgânica e social mais saudável a partir do momento que conhecemos melhor o nosso funcionamento interno, a nossa história subjetiva, quando enfrentamos nossos medos, angustias e sentimentos de perda. Psicoterapia online é uma das formas do sujeito se encontrar consigo mesmo. Qual sua distração e o que atrapalha sua vida?.
Bibliografia:
Sigmund, Freud. O Futuro de uma Ilusão, o Mal – Estar na Civilização e outros trabalhos. Rio de Janeiro. Ed. Imago. Rio de Janeiro.
Sigmund, Freud. A Interpretação dos Sonhos (I). Rio de Janeiro. Ed. Imago. Rio de Janeiro.
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